Rede Manchete: saiba tudo sobre a principal emissora de tokusatsu no Brasil!

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A Rede Manchete foi uma emissora de televisão muito querida pelos fãs de tokusatsu, afinal, foi ela quem começou a exibir séries memoráveis na história do tokusatsu no Brasil, tais como Jaspion e Changeman.

Sua fundação ocorreu no ano de 1983 pelo jornalista e empresário Adolpho Bloch com uma programação marcada pelo forte jornalismo, cobertura de esportes, novelas, minisséries e produções japonesas.

Portanto, não se pode falar de tokusatsu em terras tupiniquins sem falar de Rede Manchete e este artigo é totalmente dedicado à ela!

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A história da Rede Manchete

No fim dos anos 70, Adolpho Bloch, ucraniano naturalizado brasileiro, se interessou pela televisão por ser o único meio de comunicação que ele ainda não operava. Na época ele tinha algumas emissoras de rádio no Rio de Janeiro. Ele, então, escolheu um grupo de diretores e funcionários da Bloch Editores encarregados de cuidar do projeto TV Manchete, uma rede voltada, como ele mesmo dizia, “aos intelectuais, mas sem muita complicação”.

No começo dos anos 80 o governo federal brasileiro anunciou que abriria a concorrência para duas novas emissoras de televisão por meio das concessões da Rede Tupi e da Excelsior, as suas já extintas. E você já deve saber quais foram os vencedores da licitação. Sim, foram ninguém menos que Adolpho Bloch e Silvio Santos.

Devemos lembrar que o país ainda vivia o regime militar. E, de acordo com Conti, Bloch foi escolhido porque a revista Manchete elogiava o governo e também porque seu sobrinho, Oscar Siegelman, era amigo do general Otávio Medeiros, pertencente ao Serviço Nacional de Informações. Porém, isso não foi o suficiente para deter um grande problema: a maneira como a revista cobria o Carnaval. As palavras do próprio presidente João Figueiredo foram:

“Assim eu năo vou dar a televisăo para vocês. Eu estive vendo a Manchete, é uma vergonha. Só dá bicha e mulher pelada e vocês văo colocar isso na televisăo.”

Ele mudou de opinião depois que Alexandre Garcia, seu ex-assessor de imprensa que ficou conhecido anos depois por conta de seu trabalho na Rede Globo, disse que seria o diretor do Departamento de Jornalismo da emissora e não permitiria que cenas de baixo nível fossem ao ar.

E assim começaram os preparativos para o surgimento da Rede Manchete de Adolpho Bloch cuja intenção era exibir filmes e também da TVS de Silvio Santos, preocupado em gerar carnês para o seu Baú da Felicidade.

Após investir aproximadamente 35 milhões de dólares em equipamentos importados dos Estados Unidos, Japão e Inglaterra, o que equivalia a mais da metade do orçamento destinado. A estreia estava prevista para novembro de 1982, mas acabou acontecendo em 5 de junho de 1983 às 19h. A primeira transmissão foi justamente o discurso de Adolpho Bloch que você pode assistir abaixo.

Tokusatsus da Rede Manchete

Em 1988 a emissora fez duas aquisições que marcaram a sua história para sempre: Jaspion, o mais famoso Metal Hero exibido no Brasil, e Changeman, o mais consagrado Super Sentai segundo os fãs brasileiros. Segue abaixo a relação de todos os seriados japoneses exibidos no canal.

O Fantástico Jaspion

Um dos maiores sucessos dos anos 80 junto com Changeman, Jaspion é um guerreiro vindo do planeta Edin para salvar a Terra das garras de Sathan Ghost.

Esquadrão Relâmpago Changeman 

Um dos maiores sucessos dos anos 80 no Brasil junto com Jaspion, Changeman trazia a trama de cinco militares que receberam poderes para lutar contra extraterrestres.

Comando Estelar Flashman 

O segundo Super Sentai que chegou ao Brasil foi considerado um dos melhores do Japão. Afinal, Flashman traz uma boa história, visual bonito e personagens cativantes.

Jiraiya, o Incrível Ninja

O Incrível Ninja Jiraiya, intepretado por Takumi Tsutsui, fez um enorme sucesso no Japão e também no Brasil ao ser exibido junto com Lion Man.

Poderoso Lion Man

Lion Man P Productions

O samurai felino produzido pela P Productions também esteve presente na programação da Manchete apresentando ao público as aventuras de Dan Shimaru contra seus inimigos.

Policial de Aço Jiban

O Policial de Aço Jiban foi a única série a passar quase em tempo sincronizado, pois ela ainda estava em exibição quando veio para cá, revelando um dos atores nipônicos mais encantados pelo Brasil, Hiroshi Tokoro.

Cybercop, os Policiais do Futuro

A série Cybercops produzida pela Toho traz as aventuras de policiais que vivem em Tóquio do ano 2000 (que, na época, ainda era o futuro) e combatem a organização Destrap dotados de poderosas armaduras de combate: as unidades Cyber.

Kamen Rider Black

Kamen Rider Black, que chegou a ser chamado por aqui de Blackman, foi o primeiro personagem da franquia Kamen Rider a passar por aqui e fez um grande sucesso apesar de só ter sido exibido duas vezes nos anos 90.

Guerreiro Dimensional Spielvan 

Conhecido aqui como Jaspion 2, Spielvan, na verdade, é um sobrevivente do planeta Clean que veio a Terra para combater quem destruir o seu planeta: o Império Water.

Defensores da Luz Maskman 

O último Super Sentai a ser exibido por aqui, Maskman, tem uma trama que gira em torno de cinco jovens que, ao descobrirem o poder aura, partem para lutar contra o Império Subterrâneo Tube.

Estrela Fascinante Patrine

A única representante do gênero Super Heroine a passar por estas bandas, Patrine é uma guerreira que recebeu poderes do Deus Protetor para proteger a cidade e o universo das ameaças de bandidos e também do feitor de todo mal, o Diabo do Inferno.

Esquadrão Especial Winspector 

Uma das séries da Toei que mais chamou a atenção do público brasileiro pelo motivo de não haver monstros. Winspector é um esquadrão especial da polícia voltado a combater a criminalidade que assola o Japão.

Super Equipe de Resgate Solbrain

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A sequência de Winspector foi a última produção da Toei a chegar por aqui embalada no sucesso de seu antecessor. A presença do Chefe Masaki, interpretado pelo icônico Hiroshi Miyauchi que, outrora, também fez papel de heróis como Zubat e Kamen Rider V3, é um dos destaques da série.

Kamen Rider Black RX 

Apesar de Kamen Rider Black não ter tido o último episódio exibido por aqui, sua sequência, Kamen Rider Black RX, agradou o público, mesmo aqueles que não sabiam se tratar de uma continuação.

Ultraman

Embora a primeira exibição do herói gigante de M-78 não tenha sido na Manchete (pois, ainda não existia nos anos 70), ela foi a responsável pela reprise da série nos anos 90 graças a Sato Company.

National Kid 

National Kid é o herói vindo da quarta dimensão para lutar pela paz e justiça no mundo. Ele também teve o seu retorno triunfal na programação da Manchete nos anos 90, embora tenha tido apenas os primeiros episódios exibidos.

Aliás, algumas séries citadas acima (Jiban, Cybercops, Spielvan, Kamen Rider Black, Patrine e Kamen Rider Black RX) não tiveram seus finais exibidos pela emissora, o que gerava a revolta de muitos fãs (inclusive eu). E se você ainda se pergunta porque isso acontecia, explicaremos agora.

Por que a Manchete não exibia os finais das séries japonesas?

A explicação principal defendida por muitos fãs é que se tratava de uma estratégia para prolongar as séries na programação. Afinal, no Japão, tais programas ficam um ano no ar, pois os episódios são exibidos semanalmente. Como a TV brasileira tem o costume de exibir episódios diários (vide as novelas), isso faria com que as séries terminassem em, no máximo, três meses, o que despertaria o desinteresse do público em assistir a reprise e, consequentemente, de anunciantes e fabricantes de produtos.

Portanto, o caminho mais assertivo era exibir os tokusatsus de forma fragmentada para que eles permanecessem mais tempo no ar. Flashman foi o primeiro a passar por isso, pois era exibido apenas uma leva de episódios, depois mais outra leva e assim por diante até a série chegar ao fim.

Cybercop também teve uma estratégia parecida, sobretudo por ser uma série mais curta, de apenas 34 episódios. Tanto é que, a princípio, sua exibição ocorria somente segundas e quintas. Inclusive, os episódios que marcam a “segunda temporada” da série com a estreia de Luna, a Rainha das Bestas, aconteceu junto à estreia de Spielvan, Kamen Rider Black e Maskman dentro da Sessão Super-Heróis.

Vale dizer que a Manchete não era a única a fazer isso, a Rede Record – que transmitiu as reprises de Jaspion, Changeman, Flashman, Goggle V, Machine Man e Sharivan – fazia a mesma coisa. Porém, sempre com o último episódio, o que não era uma ideia muito inteligente já que as crianças sabiam que justamente o último episódio era boicotado.

Porém, algumas séries não seguiram essa regra, tais como Kamen Rider Black, Jiban e Spielvan cujos episódios finais sequer foram dublados porque não vieram ao Brasil. E se você alguma vez se perguntou quem é a pessoa por trás da exibição de todas essas séries na Manchete, vamos falar sobre ele.

Eduardo Miranda, o pai dos animes no Brasil

Se personagens nipônicos – sejam de tokusatsu ou anime – hoje dominam a cultura pop brasileira, foi graças a este homem.

Eduardo Miranda Tokusatsu

Eduardo Miranda trabalha como radialista há mais de 25 anos, chegando a atuar na programação de emissoras como a TV Rio e Rede Globo. Porém, foi durante os gloriosos tempos da Manchete que ele trabalhou na exibição de todos os tokusatsus mencionados acima e também de animes como Cavaleiros do Zodíaco, Shurato, Samurai Warriors, Sailor Moon, Yu Yu Hakusho, Super Campeões e US Mangá.

Por essa razão ele recebeu o título de pai dos animes do Brasil, embora também pudéssemos chamá-lo de pai dos tokusatsus.

Em quais programas da Rede Manchete passava tokusatsu?

Os anos 80 e 90 foram marcados por programas de auditório para o público infantil. Logo, todas as atrações – séries e desenhos – eram exibidas dentro desses programas. O SBT, por exemplo, passava Spectreman no Programa do Bozo e o Policial do Espaço Gyaban fazia parte da programação matinal do Xou da Xuxa.

Já na Rede Manchete, devido a popularidade dos heróis nipônicos, as exibições eram exibidas em duas grades: matutinas (para as crianças que estudavam a tarde) e vespertina (para aqueles que iam à escola de manhã) dentro de três programas: Cometa Alegria, Dudalegria e Clube da Criança. Vamos conhecer (ou relembrar) cada um deles.

Cometa Alegria

Cometa Alegria Rede Manchete

Foi a atração que fez a estreia da dupla mirim Patrick de Oliveira e Cinthya Rachel na TV brasileira. Eles usavam trajes espaciais e davam dicas às crianças durante os intervalos das atrações que contava com tokusatsu, desenhos da Hanna Barbera como O Coisa e Mini Polegar e séries norte-americanas como Benji.

Dudalegria

Programa apresentado por Duda Little que ficou famosa por sua atuação em Os Trapalhões. Sua estreia ocorreu em 1992 após o término de Cometa Alegria e, além de séries e desenhos, trazia também atividades que as crianças podiam fazer em casa e convidados como cantores de sucesso na época (o Latino praticamente aparecia no programa toda semana).

Clube da Criança

Angélica Clube da Criança Rede Manchete

Esta era a principal atração infantil da emissora, sobretudo por ser apresentada por ninguém menos que Angélica que rivalizava diretamente com a Xuxa na época. Além das séries japonesas, alguns animes conhecidos pelo público brasileiro também foram exibidos por lá, tais como Patrulha Estelar e Pirata do Espaço.

Com a saída de Angélica da emissora, a apresentadora passou a ser Mylla Christie que também se destacou na época por algumas minisséries na Globo. Durante sua apresentação, já não eram mais exibidos tokusatsus e sim o anime Doraemon.

O fim da Rede Manchete

Após termos recordado aqui neste post tantas alegrias que a emissora carioca nos trouxe, chegou o momento de falar de coisa triste: o encerramento da Rede Manchete.

A partir de 1998, três anos após o falecimento de Adolpho Bloch, a emissora passou a enfrentar desgaste por conta de uma série de fatores que começou com a queda de audiência, altíssimos juros de dívida tanto dela quanto do Grupo Bloch, falhas na administração, atraso de salários, e por aí vai.

Apesar da reestruturação do jornalismo e a volta de programas de peso à programação como a novela Pantanal e Jiraiya, isso não ajudou para amenizar a crise e ações inesperadas como cortes de transmissão cometidos pelos próprios funcionários, insatisfeitos com o cenário no qual a emissora se encontrava.

A ficha de que tratava-se de um grande problema caiu quando o Jornal da Manchete saiu do ar. Nesse momento surgiram vários interessados em tomar as rédeas do canal e reestruturá-lo. No começo de 1999, Pedro Jacques Kappeller e Jacqueline Kappeller, diretores do Grupo Bloch, anunciaram a parceria com o Grupo Renascer em Cristo para alcançarem esse fim, porém, isso não se concretizou.

Foi, então, que a TV Omega de Almílcare Dallevo, fez a oferta final para compra da emissora, se comprometendo a pagar todas as dívidas e regularizar a situação, contudo, fazendo surgir um canal de TV totalmente diferente do anterior.

Esse foi o fim da Rede Manchete de Televisão. No dia 10 de maio de 1999 estreava a Rede TV que, apesar de não ter resgatado nenhuma atração nipônica da emissora anterior, trouxe ao público produções como Ryukendo e animes como Super Campeões Road to 2002, Full Metal Alchemist e Super Onze.

Seja como for, para todos que viveram essa época, a Rede Manchete sempre estará em nossos corações. Gostou deste artigo? Então, compartilhe-o nas suas redes sociais! Mas, antes, vamos assistir juntos a saudosa vinheta de abertura da emissora.

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