National Kid! O primeiro herói japonês a chegar ao Brasil!

“Domina o mundo da 4ª dimensão. Supera o impossível. Mais forte do que as armas científicas atuais, mais rápido do que os aviões a jato. Defensor da paz e da justiça. Super-homem invencível. Seu nome é National Kid!”

Com estas palavras, era anunciada mais uma aventura de National Kid. No Japão, seus 39 episódios em preto e branco foram exibidos entre Agosto de 1960 e Abril de 1961, sendo a quarta série do gênero tokusatsu produzida pela Toei. 

Foi o primeiro tokusatsu a ser exibido no Brasil, onde, por ser diferente de tudo o que, até então, havíamos visto em matéria de super-heróis, conquistou muitos fãs e um status de cult, abrindo caminho para a chegada de outras séries, como UltraQ, Ultraman, Príncipe Dinossauro, etc.

A série pode ser dividida em 5 sagas: 

• Os Incas Venusianos;
• Os Seres Abissais;
• O Império Subterrâneo;
• Os Zarrocos;
• O Mistério do Garoto Espacial.

A história de National Kid

Um extraterrestre vem de sua terra natal, a galáxia de Andrômeda, para viver na Terra e aprender sobre a nossa cultura. Disfarçado como o modesto e pacato professor Masao Hata, ele adota um grupo de crianças órfãs. 

Mas, quando os discos voadores dos Incas Venusianos atacam a Terra para dominar e escravizar a humanidade, ele torna-se o herói National Kid, e passa a defender o nosso planeta dessa e de muitas outras ameaças.

Personagens de National Kid

Massao Hata / National Kid

Masao Hata parece ser apenas um tranquilo professor e cientista que cuida de um grupo de crianças órfãs, mas, na verdade, é o herói extraterrestre National Kid. 

Trajando uma roupa espacial com um grande N estampado no peito, usando um par de pistolas chamadas Eroruya, e contando com sua superforça e seu poder de voar, ele defende a Terra das forças do mal.

Aliados de National Kid

Chiako

Assistente do professor, toma conta da casa e dos menores.

Doutor Nagano / Doutor Mizuno

Cientista e grande amigo de Masao.

Delegado Takakura 

É o chefe da polícia local.

Doi 

Assistente do Inspetor Takakura 

Alunos do Professor Hata

São as crianças órfãs adotadas pelo professor Hata. Eles formam uma espécie de grupo de detetives mirins, mas o máximo que conseguem é arranjar problemas. É nessas horas que chamam National Kid por meio de um rádio-transmissor (da National Panasonic, obviamente): Yukio, Kurazo (às vezes, chamado de Koshio), Kyoko, Tomohiro e Goro.

Tarou

O garoto espacial, vindo de seu planeta em sua nave em forma de ovo. Perde a memória e é encontrado pelos alunos de Masao, juntando-se a eles.

Inimigos de National Kid

Incas Venusianos

Trajando roupas negras, com grandes e pontudas orelhas e um inexplicável Z estampado no peito (talvez possa ser Z de VenuZiano), os Incas Venusianos vinham de seu planeta em sua nave-mãe, um enorme disco voador que trazia discos menores acoplados. 

Podiam voar, e o faziam de uma forma um tanto peculiar, mexendo as pernas como se estivessem pedalando no ar. A típica saudação dos Incas Venusianos, cruzando os braços e exclamando “AWIKA”, tornou-se, com certeza, um dos elementos mais emblemáticos da série.

Imperatriz Aura

A terrível líder dos Incas Venusianos

Seres Abissais

Seres das profundezas marinhas revoltados com a humanidade, por toda a poluição e com o lixo radioativo despejados nos mares. Escondiam sua forma bestial sob um manto preto com capuz.

Andavam a bordo do submarino-monstro Guilton, que, ao mover suas barbatanas, provocava um maremoto. Daí a famosa frase: “Celacanto provoca maremoto”, muito pichada pelas ruas naquela época.

Satan Abissal Nelkon

Imperador dos seres abissais. Ao contrário de seus subordinados, usava um manto branco.

Dr. Sanada

O velho cientista de monóculo é, na verdade, Peixe 1, o imediato de Nelkon, infiltrado entre os humanos.

Sango

Menino que ajuda o Dr. Sanada.

Seres Subterrâneos

Terríveis seres que invadem a nossa superfície para obter energia solar e se apoderar das reservas do elemento Cobálcio na galáxia.

Dr. Koroiva

Líder dos seres subterrâneos, que invadem nossa superfície para dominar a Terra.

Zarrocos do Espaço

Seres de narizes finíssimos que comandavam o monstro Giabra. Fedem a lodo e usam um disco voador escondido no fundo de um lago pantanoso. 

Giabra

É o poderoso monstro sob o comando dos Zarrocos. Seus olhos são seu único ponto fraco.

Curiosidades sobre National Kid

Originalmente, o alter-ego do herói tinha o nome de Ryusaku Hata, mas, na dublagem brasileira, foi alterado para Masao, pois a pronúncia do nome original poderia soar um tanto constrangedora para nós.

Durante o regime militar, a censura proibiu, terminantemente, a exibição de programas de super-heróis voadores na televisão brasileira. Vários seriados tiveram suas exibições interrompidas, na ocasião. Com National Kid, não foi diferente. Contudo, ele tornou a ser exibido em 1968, na TV Excelsior, embora tenha sido novamente tirado do ar, um ano depois.

No Brasil, diversas emissoras chegaram a exibir as aventuras de National Kid: Record, Excelsior, Globo, TV Rio, Manchete e TV Tupi. Atualmente, suas aventuras podem ser vistas no Tokusatsu TV e no Amazon Prime.

Com a grande repercussão da série no Brasil, o chocolate Toddy chegou a promover o sorteio de uma fantasia do herói.

A série ficou sumida das telas brasileiras por mais de 20 anos. Segundo dizem, isso ocorreu em virtude de um dos muitos incêndios ocorridos na época, que consumiram boa parte dos acervos das emissora.

Nos anos 90, a Sato Company relançou National Kid e Ultraman. A história é curiosa: Nelson Sato foi ao Japão para comprar Ultraman e resolveu trazer National Kid junto, pensando em cativar, pela nostalgia, o público adulto que havia assistido o seriado quando criança.

Os japoneses ficaram tão espantados com o interesse pela série, já totalmente esquecida por eles, que sequer deram garantia que as fitas estariam em um estado adequado.

Esse retorno teve grande repercussão na mídia: inúmeros jornais e revistas de grande circulação publicaram matérias a respeito. Houve, inclusive, um bloco inteiro no Fantástico, da Rede Globo, dedicado ao herói. Ele também apareceu em vários outros programas, como o Bom Dia & Cia e Top TV, programa de cultura pop muito conhecido na época.

As cores originais do herói, segundo o mangá, seriam azul e dourado. Entretanto, é possível encontrar antigas imagens colorizadas digitalmente em que o herói apresenta outras combinações de cores. Como o programa era em preto e branco, o correto nunca ficou muito claro para nós.

A coloração azul e prateada, com a qual o personagem acabou ficando mais conhecido por aqui, foi determinação da Sato Company.

Em 2009, a Focus Filmes relançou toda a série em 7 DVDs. Algumas cenas, como uma em que National Kid leva o menino paralítico para voar, infelizmente, estão faltando. Em compensação, essa coleção tem a vantagem de ter o som original em japonês em alguns episódios, e é vendida em uma lata de alumínio estilizada e traz um boné preto com o desenho do super-herói.

No Carnaval do ano de 2009, o herói foi parte do tema do desfile da escola de samba Unidos da Tijuca.

National Kid foi criado pelo mangaká Daiji Kazumine, sob encomenda para três empresas: a Kodansha (editora para a qual trabalhava, na revista Vokura) a Toei Company (que todos sabemos quem é) e a National Electronics (fabricante de aparelhos e equipamentos eletrônicos, e que viria a se tornar a atual Panasonic). 

A estratégia era alavancar as vendas dos produtos produzidos pela National, como relógios e rádios a pilha, que eram largamente usados pelos personagens da série. Uma das primeiras e mais cretinas ações de marketing da história da televisão.

A brilhante estratégia não deu muito certo: National Kid não fez sucesso algum no Japão (assim como qualquer outro lugar, além do Brasil), sendo cancelada na metade da segunda temporada.

A falta de sucesso no Japão foi tamanha que Nagayoshi Akasaka, um diretores e redatores principais da série, ficou genuinamente surpreso ao saber de sua enorme receptividade no Brasil.

O plano de utilizar um super-herói como garoto-propaganda de uma grande marca foi reutilizado em 1967, pela Toshiba, com a série Kousoku Esper. Ao contrário de National Kid, Esper fez bastante sucesso no Japão, e também no Brasil.

Alguns anos depois, Kazumine viria a criar outro personagem de muito sucesso no Brasil, o Spectreman.

Paralelo à série de TV, houve um mangá, produzido pelo próprio Daiji Kazumine, publicado na revista Bokura entre julho de 1960 e dezembro de 1961. Enquanto o National Kid da TV era um adulto, no mangá, tratava-se de um garoto, fazendo algum jus a seu nome. 

Presume-se que o sucesso do mangá tenha sido maior que o da série de TV, pois, após cobrir as histórias da série, ele seguiu por alguns meses com enredos originais. Na época, o mangá rendeu três tankohon, reunindo as duas primeiras sagas. Em 2008, todas as histórias foram publicadas em um kanzenban (edição de colecionador).

National Kid foi o quarto tokusatsu produzido pela Toei, tendo sido antecedido por Yusei Ouji (filme de 1959), Nana Iro Kamen (primeira série tokusatsu da Toei, também de 1959) e Gekko Kamen (filme de 1958). Além disso, National Kid foi o primeiro herói de tokusatsu capaz de voar.

O orçamento da série era extremamente baixo: o elenco da série era totalmente amador, composto por comerciantes e funcionários de banco. Nenhum deles seguiu adiante na carreira de ator.

Ainda por cima, o elenco era tão reduzido que cada um dos atores chegava a interpretar vários personagens e figurações – incluindo o ator principal!

Ichiro Kojima, o ator que interpretou Masao / National Kid, se retirou da série por problemas de saúde, sendo substituído pelo ator Tatsumi Shiutaro, a partir da saga dos Seres Subterrâneos.

Outras alterações no elenco ocorreram: Yukio duas vezes, uma na saga dos Seres Subterrâneos e outra na saga dos Zarrocos, e Kyoko também muda na saga dos Zarrocos.

Os Incas Venusianos, no Japão, era chamados apenas de Incas. Foi a dublagem brasileira que acrescentou o “Venusianos”, a fim de que pudéssemos compreendê-los como alienígenas do planeta Vênus.

Uma particularidade sobre o herói: após derrotar seus inimigos, ele gargalhava deles.

A palavra “Awika”, usada como saudação entre os Incas Venusianos, tem sua origem na divindade inca de mesmo nome. Na segunda dublagem da série (distribuída pela Sato Company), eles passaram a pronunciar “Avika”.

Os produtores de National Kid declararam que a clássica série As Aventuras do Superman, estrelada por George Reeves, foi a principal inspiração para a criação do herói da galáxia de Andrômeda.

National Kid aparece rapidamente no clip Epitáfio, da banda brasileira Titãs.

Há um episódio da série em que os pequenos alunos do Professor Masao Hata são intoxicados e hospitalizados. Quem é chamado é o próprio professor, e não as famílias das crianças. Isso nos sugere que aquelas crianças fossem órfãs e tenham perdido suas famílias na Segunda Guerra Mundial, algo muito comum na época. 

Afinal, a série é de 1959, ou seja, apenas 14 anos após o final da guerra. Apesar de alguns sinais de avanço, o Japão ainda estava em fase de reconstrução e enfrentava uma série de problemas decorrentes disso.

Como dito antes, o título do episódio “Celacanto Provoca Maremoto” deu origem a uma famosa pichação. A frase tornou-se onipresente nos muros do Rio de Janeiro, em 1977. O autor da pichação era o jornalista carioca Carlos Alberto Teixeira, então com 17 anos. 

Na mesma época, havia uma outra pichação, o Lerfá Mu. Os dois pichadores estudavam na PUC e eram rivais. Inspirado nestas pichações, foi lançado, em 1979, o filme Lerfá Mu, escrito e dirigido por Carlos Frederico Rodrigues.

A pichação de Teixeira ganhou um painel em sua homenagem em uma exposição sobre o peixe abissal celacanto, durante a comemoração dos 200 anos de fundação do Museu Nacional / UFRJ.

Na mesma época das pichações de Teixeira, um hacker, inspirado pela mesma frase, invadiu o computador de Instituto Militar de Engenharia e substituiu a função raiz quadrada por outra, de mesmo nome. 

A nova função calculava normalmente a raiz quadrada, mas, como brinde, a cada dez frases impressas, uma era “Celacanto Provoca Maremoto”, ou alguma variante, como “Coelacantus agitat mare”.

E nesse mesmo ano, 1979, o Brasil também recebia o primeiro filme de Kamen Rider (porém, adaptado por chineses). Agora que você já sabe tudo sobre National Kid, o primeiro herói japonês a chegar ao Brasil, confira o artigo que explica como foi essa estreia dos Kamen Riders nos cinemas brasileiros!