Kenji Ushio: conheça as várias facetas de um dos maiores vilões de tokusatsu
Quando se fala em grandes nomes do tokusatsu, o gênero de séries japonesas com efeitos especiais e super-heróis, é impossível não lembrar de Kenji Ushio.
Ele foi muito mais do que o intérprete do temido Jigoku Taishi (Embaixador do Inferno) em Kamen Rider ou do irreverente Doutor Q em Bicrossers — sua carreira se estendeu por quase meio século, passando pelo teatro, cinema e televisão, deixando uma marca profunda na cultura pop japonesa.
Mesmo com mudanças frequentes de nome artístico, sua presença de cena e dedicação ao papel de antagonista o tornaram uma figura reconhecida entre fãs de todas as gerações.
Formação e primeiros anos de Kenji Ushio
Nascido como Masao Mashido em 23 de março de 1925, em Meguro, no antigo distrito de Tóquio, Kenji Ushio teve sua juventude atravessada pela Segunda Guerra Mundial. Alistado como piloto na escola de aviação do exército, viu sua trajetória tomar um novo rumo após o fim do conflito. Retornando à vida civil, ingressou em um grupo de teatro em 1947 e, com o tempo, começou a adotar nomes artísticos diferentes, até consolidar-se como Kenji Ushio.
Em 1949, estreou no cinema com o filme Shikkō Yūyo e, logo depois, foi contratado pelos Estúdios Toei. Essa parceria o colocaria no caminho dos seriados de ação, suspense e heróis que se tornariam febre entre os jovens japoneses.
Versatilidade no cinema e no tokusatsu
Kenji Ushio começou a ganhar notoriedade no cinema interpretando personagens secundários em filmes de máfia e dramas históricos. Esteve em produções como Keishichō Monogatari (1957), Gekko Kamen (1959) e Muhōmatsu no Isshō (1963), entre outras.
Seus primeiros passos no universo tokusatsu aconteceram ainda nos anos 1960. Participou da série National Kid como o alienígena Atorishmu e deu vida a antagonistas em Nana-Iro Kamen e Akuma-kun. Foi em Akuma-kun (1966–1967) que se consolidou como um rosto ideal para os vilões. Interpretando o demônio Mefisto, substituiu Yoshio Yoshida e ficou até o encerramento da série.
O auge com Jigoku Taishi em Kamen Rider
O ponto alto da carreira de Kenji Ushio veio em 1972, com a entrada em Kamen Rider como Jigoku Taishi, o Embaixador do Inferno. Sua estreia foi no episódio 53, substituindo o vilão anterior, Doutor Shinigami. O personagem caiu rapidamente no gosto do público, graças ao tom solene, voz marcante e postura ameaçadora.
Ushio reprisou o papel em Kamen Rider V3 e no especial de 1984 10 Gō Tanjō! Kamen Raidā Zen’in Shūgō!!, como Kurayami Taishi, o Embaixador das Trevas. O sucesso de seus personagens fez dele um vilão icônico dentro da franquia.
Uma sequência de antagonistas inesquecíveis
Nos anos seguintes, Kenji Ushio se tornaria o “ator oficial” de vilões em diversas produções da Toei. Interpretou criaturas e figuras maléficas em séries como:
- Android Kikaider (1972)
- Henshin Ninja Arashi (1972–1973)
- Barom-1 (1972)
- Gorenger (1975–1976)
- J.A.K.Q. Dengekitai (1977)
- Battle Fever J (1979)
Apesar de ter sido substituído após sete episódios em Battle Fever J por causa de um escândalo envolvendo drogas, sua atuação permaneceu marcante para os fãs.
Além disso, Kenji Ushio chegou a interpretar um raro papel de herói: Saburoubee Fukuro, o Raijin Captor 1 da série Ninja Captor (1976). Foi uma das poucas vezes em que seu rosto apareceu como um dos “mocinhos”.
Retorno nos anos 80 e o carismático Doutor Q
Mesmo com idade avançada, Ushio seguiu atuando nos anos 80, aparecendo nas três séries da trilogia Uchuu Keiji (Gavan, Sharivan e Shaider), sempre como a forma humana de monstros ou vilões.
Em 1985, ganhou novo destaque como o vilão principal da série Bicrossers, interpretando o excêntrico e ganancioso Doutor Q. Era um cientista obcecado por diamantes e poder, sempre frustrado pelas investidas dos irmãos protagonistas. O personagem, com seu humor exagerado e planos absurdos, mostrou uma faceta mais caricata de Ushio, que soube dosar drama e comédia na medida certa.
Outras facetas: cinema, teatro, dublagem e bastidores
Além da televisão, Kenji Ushio se manteve ativo em outras frentes. No teatro, participou de montagens como Yukai na Kaizoku Daibōken, entre 1982 e 1984. No cinema, fez parte das séries Abashiri Bangaichi e Gokudō Series, além de dramas como Aa Chūshingura.
Ele também deu voz a personagens de animações e narrou produções especiais da Toei, como Kaijin Kaijū Daihyakka: Yōkai-hen. Em 1992, apareceu no V-Cinema The Skull Soldier: Fukkatsu no Bigaku, seu último papel em tokusatsu.
Fora das câmeras, era conhecido por seu bom humor e pelo relacionamento próximo com colegas como Sonny Chiba, com quem se apresentava como baterista em turnês com a banda “Chiba Shinichi & The Satans”. Atuava como mestre de cerimônias e confidente do ator.
Doença e despedida
Em setembro de 1993, Kenji Ushio participou em cadeira de rodas da festa de lançamento de sua autobiografia Hoshi o Kutta Otoko (“O Homem Que Comeu as Estrelas”). Poucos dias depois, foi internado com falência hepática, vindo a falecer na madrugada de 19 de setembro, aos 68 anos.
Mesmo doente, fez questão de comparecer à 32ª Convenção de Ficção Científica do Japão, onde foi homenageado com o Prêmio Dark Nebula por sua atuação como Jigoku Taishi. Foi sua última aparição pública — e, para muitos fãs, seu adeus simbólico ao personagem e ao gênero.
Portanto, Kenji Ushio foi muito mais do que o vilão de um ou outro episódio. Sua presença ajudou a definir o que se entende por antagonista no tokusatsu: ameaçador, teatral, cativante e, muitas vezes, tragicômico. Mesmo com papéis secundários, conseguiu construir uma identidade única, tornando-se referência para as gerações seguintes.
Para quem cresceu assistindo Kamen Rider, Gorenger, Bicrossers ou Gavan, a imagem de Kenji Ushio está para sempre associada à sensação de perigo iminente, mas também ao fascínio que só os vilões bem interpretados conseguem provocar.
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