Vida de Tokusatsu: “quero ser um dos Cybercop, os Policiais do Futuro”
Ainda criança, eu aprendi com os Cybercop, os Policiais do Futuro, que, enquanto houver amigos em quem confiar, você será capaz de qualquer coisa.
Tem gente que acha tosco, ridículo e até infantilóide um marmanjo de 35 anos continuar assistindo essas séries de cabo a rabo com o mesmo deslumbramento de vinte anos atrás, mas a verdade é que essas séries japonesas continham, além das explosões de fumaça, das lutas coreografadas, dos “defeitos especiais” e dos monstros de borracha, mensagens importantes sobre coisas que hoje eu considero os valores máximos que alguém pode carregar: amizade, confiança, persistência e honradez.
Todas as outras qualidades que uma pessoa pode possuir são meras consequências dessas quatro, e esse discernimento me foi muito bem transmitido por personagens envolventes, humanos e de fácil identificação, muito distantes do padrão ocidental de heróis (em sua maioria) perfeitinhos e inalcançáveis.
“Derrotando os próprios vilões”
Vi os policiais do futuro desobedecendo as ordens do Capitão Oda por incontáveis vezes e se arriscando num campo de batalha em nome da amizade. E os vi dividindo o tempo entre explodir os robôs terroristas da organização maligna Destrap e jogar sinuca, tocar em uma banda, se apaixonar, chorar, ajudar crianças a realizar os seus sonhos.
Várias vezes tenho dúvidas e as vezes dá até vontade de desistir dos caminhos que eu escolhi trilhar na minha vida. Mas aí, eu lembro de heróis como o Júpiter que, com os próprios conflitos e dúvidas, chegou perto de jogar a toalha várias vezes, mas nunca chegou a desistir de fato.
E de heróis como Marte, Saturno, Mercúrio, Tomoko e Lúcifer, cada um com suas diferenças e problemas, mas que nunca deixaram de se apoiar na hora necessária. Aí eu penso em pessoas que a vida colocou no meu caminho e que nunca mais saíram, sem as quais eu talvez não estivesse mais aqui.
“Cybercop, os Policiais do Futuro, salvam a minha vida até hoje”
Assim como os Cybercops, nós temos passado por poucas e boas e derrotado nossos próprios vilões juntos. Se tem sido assim até agora, continuará sendo assim até o nosso final feliz, onde, à nossa maneira, salvaremos Tóquio.
Dizem que você pode determinar o caráter de um homem pela forma que ele trata as mulheres, ou um povo pelo seu líder. Eu acho que essas coisas são verdadeiras e, da mesma forma, você pode saber muito sobre um adulto pelos heróis que o inspiraram quando criança.
Enquanto as gerações mais recentes crescem com heróis vazios, eu posso dizer, com orgulho, que, lá pelo comecinho dos anos 90, Júpiter, Marte, Saturno e Mercúrio salvavam – e salvam até hoje – a minha vida nas tardes de segunda a sexta a cada episódio.
Infantil? Pode ser, mas então eu prefiro ser uma criança com heróis de verdade do que um adulto cinzento sem um mínimo de brilho nos olhos.
Como diz uma música do ZERØ, que é uma banda antiga que eu gosto muito:
“O que falta são heróis
Que assumam a direção
Que nos guiem pelas trevas
Como os ratos e a canção”
É, acho que eu quero ser um Cybercop, um Kamen Rider ou, quem sabe, um Cavaleiro do Zodíaco. E você, quer ser o quê?
