Por que otakus dos anos 90 diziam que tokusatsu é ruim?
Os universos do tokusatsu e dos animes são muito próximos, tanto que é comum encontrar fãs que gostam dos dois tipos de produção. Porém, nem sempre foi assim. Nos anos 90, época em que ambos dominavam as programações da TV brasileira, algo inusitado acontecia: era comum os otakus dizerem que tokusatsu é ruim.
Mas, afinal, o que fazia com que eles dissessem isso? E por que precisamente nessa época? Esse cenário mudou de lá para cá? Caso sim, como mudou?
Continue a leitura do artigo para saber todas as respostas!
Como eram os animes nos anos 80?
A década do mullet e da brilhantina foi marcada por animes de qualidade na televisão brasileira. Antes mesmo de Jaspion e Changeman fazerem a sua grande estreia, o público da Rede Manchete já vibrava com títulos como Patrulha Estelar.
Os outros canais não ficavam de fora, enquanto a Rede Globo passava Zillion, o SBT transmitia clássicos como Candy Candy e Saber Rider que chamou a atenção de quem gostava de robôs gigantes.
Macross é outro nome memorável que marcou presença na Globo (embora pela versão Robotech), Manchete (pelo filme “Do You Remember Love”) e CNT que exibiu a série clássica sob o nome de Guerra das Galáxias em horário nobre.
Contudo, todas essas produções eram vistas meramente como desenhos animados, por mais que alguns as classificassem como “desenhos japoneses”, mas sem a ênfase que o anime tem nos dias de hoje.
Como eram os animes nos anos 90?
A presença dos animes no Brasil mudou a partir do dia 1 de setembro de 1994 com a estreia de Cavaleiros do Zodíaco na Rede Manchete.
Considerando que, na época, tínhamos basicamente Pirata do Espaço e Macross no horário das novelas da Globo (sendo que muitas famílias tinham apenas uma televisão em casa), além de G-Force e Speed Racer na TV a cabo (que tampouco era acessível a muitas famílias), os defensores de Atena marcaram o primeiro contato de uma geração com os animes.
Ainda mais porque, baseado no seu sucesso, outros títulos vieram ao Brasil tanto via TV aberta quanto VHS. Isso fez surgir a mais nova geração de otakus que passaram a ter contato com produções inéditas no Brasil por meio de eventos e revistas especializadas da época.
Quais diferenças eram vistas em animes e tokusatsu?
Por mais que o foco das emissoras de TV fosse animes shonen que tinham uma similaridade com o tokusatsu (a luta do bem contra o mal), o público otaku percebeu que o universo dos animes era muito mais amplo.
Por mais que nomes como Saint Seiya, Yu Yu Hakusho e Dragon Ball Z fossem bacanas, outras séries como Love Hina, Karekano e Ah! Megami-Sama! mostraram que as atrações nipônicas não são compostas apenas de socos e chutes.
Tanto é que o próprio Shotaro Ishinomori, criador de Kamen Rider, também é o autor de Nippon Keizai Nyūmon, um mangá sobre o universo econômico do Japão que também ganhou uma versão em anime.
Por outro lado, os tokusatsus, pelo próprio sentido semântico da palavra (efeitos especiais), apresentavam heróis com superpoderes que combatiam monstros, robôs ou criminosos, com muitas explosões e efeitos pirotécnicos, como de costume.
Por que otakus achavam tokusatsu ruim?
Durante a segunda metade da década de 90, era comum, em eventos de anime, ouvir otakus dizerem:
“Esses live-actions são muito toscos, é tudo igual e as lutas sempre terminam naquela pedreira”.
Bom, vale lembrar que essa geração era majoritariamente composta por adolescentes com idades entre 13 e 17 anos. Segundo o Centro de Apoio à Pesquisa no Complexo de Saúde da UERJ, essa faixa etária costuma ser muito influenciada pela mídia. Era justamente isso que acontecia nessa época em relação ao tokusatsu.
Uma revista totalmente dedicada a animes tinha uma característica peculiar em sua linha editorial: descer o malho nas séries tokusatsu.
Eles costumavam dizer que tais produções eram muito ruins, que a qualidade era pífia se comparada com a das animações. Provavelmente, isso acabou influenciando seus jovens leitores que passaram a crucificar produções do tipo.
Esse cenário mudou nos dias de hoje?
Sim, felizmente, o cenário mudou. O dito público cresceu, os fãs de tokusatsu começaram a surgir de forma humilde nos eventos e até mesmo algumas pessoas que criticavam e diziam não gostar passaram a mudar de ideia ao ter contato com as séries da infância, além das que ainda eram inéditas por aqui.
Claro que ainda há pessoas que gostam de animes, mas não curtem tokusatsu. No entanto, um ponto importante que não víamos tanto nos anos 90 apareceu: o respeito.
Afinal, a cultura pop japonesa é muito vasta e composta de variadas produções: animes, tokusatsu, jdrama, jpop, jrock, enka, etc. Todas partem, majoritariamente, do Japão, de modo que, independente do gosto individual de cada um, o essencial é manter o respeito e a lembrança das características em comum que essas obras nipônicas têm.
Por fim, sobre o tokusatsu, também se dizia muito que se trata de seriados para o público infantil. Mas, será mesmo? Continue conosco e confira este artigo que traz a resposta!