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Qual é a relação entre tokusatsu, Globo, Fantástico e computação gráfica?

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Uma das principais características das produções de tokusatsu recentes é o uso abusivo de computação gráfica (CG). Não é preciso ser nenhum especialista para perceber que esta técnica é predominante em cenas de ação como as dos robôs de Zenkaiger, as produções para a web de Ultra Galaxy Fight, os upgrades nas transformações de Kamen Rider Revice.

Para os fãs mais velhos e adeptos aos efeitos práticos, com uso de maquetes, dublês fantasiados e explosões de verdade, esse tipo de efeito especial feito exclusivamente no computador diminui muito o charme das produções, principalmente pelo fato de terem um nível de precariedade que faz a gente sentir que está num jogo de PlayStation 2.

Discussões sobre o que é melhor ou pior à parte, o que pouca gente sabe é que essa característica tão marcante nas produções atuais tem o dedo de um designer teuto-brasileiro de cidadania austríaca do qual você provavelmente já ouviu falar: Hans Donner.

Sim, o mesmo cara que ficou famoso por criar o logotipo da Rede Globo num guardanapo, ex-marido da Globeleza e responsável por diversas vinhetas clássicas da emissora também tem histórias bem interessantes sobre a origem de duas das mais revolucionárias entidades do entretenimento moderno: a Pixar e a Dreamworks.

E tudo graças à memorável abertura do Fantástico de 1983, aquela que tinha um monte de bailarinas com roupas esquisitas dançando em volta de uma pirâmide fatiada por um arco-íris na horizontal.

É Fantástico!

Naquela época, as imagens reproduzidas na abertura do “show da vida” impressionaram os espectadores do Brasil inteiro com uma estética futurista feita com o que havia de mais sofisticado em computação gráfica, ou seja, quase nada.

Em uma entrevista para o programa “The Noite”, com Danilo Gentili, no SBT, Hans Donner revelou detalhes bem curiosos sobre essa passagem memorável da televisão brasileira.

Na entrevista, Donner conta que, ao desenvolver a famosa vinheta do Fantástico, contou com a colaboração de um trio de gênios da empresa Pacific Data Image (PDI), parceira da Globo naquela época. Eles eram Richard Chuang (dono da PDI), Glenn Entis e Carl Rosendal. 

“O mais incrível de tudo era que eu trabalhava com esse chinês, Richard Chuang, que fazia os números e cálculos matemáticos. Enchia o saco dele, porque nunca tinha sido feito uma coisa do nível que eu queria.”

Além disso, ele complementou:

Queria as imagens mais metálicas, um arco-íris mais bonito, e ele não conseguia dar conta. E cada vez que eu insistia mais, ele sumia com um livro. Um dia falei ‘que livro é esse aí?”

O livro em questão era “Geometria Diferencial de Curvas e Superfícies”, de Manfredo do Carmo, um professor do Instituto de Matemática Pura e Aplicada (IMPA) que, coincidentemente, morava na frente do escritório do próprio Donner, no Jardim Botânico. Ele disse:

“Ele, um chinês que trabalhava no Silicon Valley, onde nasceu a indústria de computação gráfica para valer, usava um livro de um brasileiro vizinho da Globo para fazer a abertura do Fantástico acontecer.”

Mas o que isso tem a ver com as produções de tokusatsu recentes? É aqui que a história começa a ficar interessante:

O nascimento da Pixar e da Dreamworks

Segundo o próprio Hans Donner relata nesta outra entrevista, a computação gráfica nasceu no Vale do Silício (Estados Unidos) com dinheiro da Rede Globo.

Aquele mesmo trio de gênios da PDI, que foi contratado pela emissora para produzir a abertura do Fantástico sob a supervisão de Donner, chamou a atenção de Edwin Catmull e John Lasseter, dois americanos que tinham um projeto ambicioso: transformar um premiado curta metragem em um filme para cinema. Esse curta se chamava Toy Story.

Claro que, naquela época, transformar um curta-metragem de computação gráfica num filme de cinema seria algo que precisaria de um investimento na casa de dezenas de milhões de dólares.

Dez dias depois da conversa que rolou entre os dois americanos e o trio que trabalhava com Hans Donner, acontecia um dos capítulos mais emblemáticos da história da tecnologia moderna: Steve Jobs era demitido da Apple. Essa história você provavelmente já conhece porque chegou a ser relatada em dezenas de livros e filmes.

Acontece que o excêntrico Steve saiu da empresa que ele mesmo fundou com a conta bancária cheia de dinheiro. Algo em torno de US$ 100 milhões.

Foi então que a dupla de criadores de Toy Story uniu seu sonho e seu talento ao aporte financeiro de um dos maiores nomes da história da tecnologia e assim fundaram o mais importante e lucrativo estúdio de animação da atualidade, a Pixar.

Steve Jobs, que não entendia muito do negócio, optou por nem se meter na ideia dos dois. Apenas largou US$ 10 milhões na mão da dupla e disse: “Façam!” Essa história é confirmada pelo próprio Edwin Catmull no livro CRIATIVIDADE S.A. de 2014.

O resto da história você já sabe: Toy Story virou um dos filmes mais importantes da história da animação, foi parar nos cinemas em 1995 e mudou completamente a história da computação gráfica em filmes e desenhos.

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O mais curioso é que aquele mesmo trio de gênios que sentou na mesa com a dupla de criadores de Toy Story, segundo Donner, viriam a assumir, anos mais tarde, a principal concorrência da Pixar: a Dreamworks.

Ou seja, numa mesma mesa, em território brasileiro, estavam sentadas cinco pessoas que anos depois se tornariam os pioneiros da computação gráfica no mundo.

Nada mais seria como era antes na história das animações e dos efeitos especiais. Quem acompanha a “evolução” das produções de tokusatsu consegue perceber muito bem isso, considerando o excesso de computação gráfica que temos hoje.

Mais do que revolucionar o entretenimento, essa história mudou o mundo, pois impactou diretamente as indústrias do cinema, dos games, dos eSports, dos brinquedos e das mídias sociais (olha a Meta do Zuckerberg surfando nessa onda).

Como consequência disso, tivemos toda uma revolução cultural e econômica que permeia o universo geek nos dias de hoje.

Tokusatsu, Globo e um caso de amor com o Brasil

Essa é uma daquelas histórias que deveriam ser usadas como exemplo para mostrar que o Brasil tem, sim, sua relevância no cenário mundial e que pode tanto ser laboratório para grandes inovações como também revelar talentos incontestáveis.

O próprio Hans Donner relata esses acontecimentos com muita energia e sentimento de admiração pelo Brasil. Ele mesmo chegou a ser convidado para dar uma palestra sobre computação gráfica em Miami, quando foi recebido em um extenso tapete vermelho e sob uma chuva de aplausos e disse:

“Eles sabiam que fomos nós, do Brasil, que deram o clique mágico para o surgimento da Pixar, da Dreamworks e tudo que veio na sequência.”

O designer ainda menciona a astúcia e visão do publicitário Boni (o Boni da Globo, não o Bone da Resistência Tokusatsu) como o grande propulsor disso tudo, pois foi ele quem teve a grana e a ideia de unir os talentos de um designer austríaco com a equipe de produção da Rede Globo e mais alguns matemáticos americanos e um chinês.

Todo esse atrevimento culminou naquela abertura memorável do Fantástico, um trabalho que permitiu um “gattai” mágico de talentos e que potencializou a criatividade e a capacidade técnica de pessoas que viriam a reescrever a história do entretenimento.

Talvez você seja um dos que se incomodam com o excesso de CG nas produções de tokusatsu que temos hoje. Talvez considere isso tudo algo prejudicial para a indústria das produções audiovisuais.

Talvez até desmereça o que empresas como Pixar e Dreamworks fizeram nesses últimos trinta anos. Mas uma coisa você deve admitir: as produções que estão aí hoje usam e abusam da computação gráfica como característica predominante.

Seja tokusatsu, Vingadores, filmes da Disney ou Fortnite: a computação gráfica está ali, ajudando a contar histórias e fazendo a cabeça das novas gerações. E nada disso estaria acontecendo se a Globo não tivesse ousado décadas atrás.

Por falar em décadas, finalizamos este artigo com um convite para que fique conosco e confira também este post em que apontamos as principais exibições e aparições de tokusatsu ao longo dos 70 anos da televisão brasileira!

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