linguagem em japonês

Se o japonês é neutro, quais são os tipos de linguagem em japonês?

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A linguagem neutra tem sido tema de discussão desde que passou a ganhar destaque não só entre as pessoas que a utilizam, mas também em diversos setores políticos, midiáticos e educacionais. Nesse cenário, pessoas que estudam ou apreciam a língua japonesa (como fãs de tokusatsu, por exemplo) têm se perguntado: existe linguagem neutra no japonês? Caso não, quais são os tipos de linguagem em japonês?

Produzimos este artigo com a finalidade de trazer a resposta, além de explicar como os variados tipos de linguagem são usados por pessoas no Japão. Portanto, venha conosco para aprender mais a respeito deste tema e também sobre a cultura japonesa!

Quais pessoas fazem uso da linguagem neutra?

A linguagem neutra é utilizada por diferentes públicos com objetivos variados. Segundo seus representantes, o principal é evitar a discriminação ou a exibição de preconceitos com relação a questões como gênero, raça, orientação sexual, religião ou outras formas de diversidade.

A partir disso, a linguagem neutra vem sendo usada na comunicação em ambientes corporativos. Segundo O Globo, em muitas empresas, já é comum a utilização de termos e pronomes neutros em documentos oficiais, formulários e comunicações internas, com o objetivo de evitar quaisquer tipos de discriminação e garantir a igualdade de gênero.

A linguagem neutra também tem sido vista como importante em instituições de ensino com a finalidade de transmitir conhecimento de maneira objetiva e imparcial, além de evitar preconceitos ou julgamentos com relação a questões como gênero, orientação sexual ou identidade de gênero dos alunos. No Brasil, por exemplo, ministros do STF votaram contra lei que proíbe linguagem neutra nas escolas.

Por essa razão, alguns canais de mídia igualmente têm feito uso dela com o propósito de ajudar a evitar a perpetuação de estereótipos ou preconceitos com relação a grupos sociais diversos, sobretudo minorias como, por exemplo, o público LGBTQIA+ (especificamente, pessoas que se consideram não binárias ou intersexo).

Assim, palavras e expressões como “todes” têm sido conferidas em séries, filmes, histórias em quadrinhos e até mesmo discursos políticos por não corresponder ao gênero masculino (“todos”) ou feminino (“todas”) na língua portuguesa.

Essa tem sido a causa de a linguagem neutra estar gerando bastante discussão, pois enquanto uns defendem o seu uso por conta dos motivos apontados acima, outros preferem que ela não seja utilizada oficialmente em lugar da forma padrão.

Mas, e no Japão? Existe linguagem neutra?

O idioma japonês é neutro, pois as palavras não possuem gênero, diferente do que vemos no português e em outros idiomas. Portanto, a linguagem pode mudar de acordo com o gênero ou orientação sexual de quem fala. Vejamos um exemplo abaixo:

私は寿司を食べたい。

Watashi wa sushi wo tabetai.

Eu quero comer sushi.

Essa frase pode ser considerada neutra, mas um homem poderia dizê-la da seguinte forma:

僕は寿司を食べたい。

Boku wa sushi wo tabetai.

Por outro lado, uma mulher japonesa a diria:

あたしは寿司を食べたい。

Atashi wa sushi wo tabetai.

Por fim, uma pessoa bissexual talvez diria:

自分は寿司を食べたい。

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Jibun wa sushi wo tabetai.

Mas, se todas as expressões têm o mesmo significado, por que seu uso muda de acordo com o gênero ou orientação sexual? Continue a leitura para saber.

Quais são os tipos de linguagem em japonês?

Apresentaremos agora os quatro principais tipos de linguagem usados pelos japoneses: onnarashii, otokorashii, onee kotoba e onabe.

Onnarashii: linguagem usada pelas mulheres

A palavra onnarashii (女らしい), que geralmente é traduzida como “estilo feminino”, refere-se ao comportamento esperado de uma típica mulher japonesa na sociedade. 

Além de se comportar de maneiras particulares, adotar o onnarashii significa se conformar a estilos particulares de fala. Algumas das características incluem falar em um tom de voz mais alto, usando formas mais polidas e um discurso honorífico em diversas situações. Alguns exemplos bem frequentes são:

  • omissão do “da” (だ) que é a forma coloquial de “desu” (です);
  • uso de pronomes na primeira pessoa como “atashi” (あたし) em vez de “watashi” (私);
  • uso de partículas finais de sentenças como “wa” (わ), “na no” (なの), “kashira” (かしら) e “mashou” (ましょう).

Vale dizer que livros didáticos e até mesmo a mídia japonesa encorajam as mulheres a adotar esse estilo de fala. Ademais, alguns estudos linguísticos indicam que as mulheres japonesas tendem a usar uma linguagem mais honorífica do que os homens, o que reforça a ideia de onnarashii e papéis de gênero convencionais na língua e sociedade nipônica.

Otokorashii: linguagem usada pelos homens japoneses

Assim como existem modos de falar e comportamento intrinsecamente femininos, também há aqueles que são considerados otokorashii, ou seja, com características do “estilo masculino” de fala. 

Via de regra, a linguagem masculina usa menos formas polidas, pronomes distintos e partículas finais de sentenças, além de algumas vogais reduzidas. Assim, palavras associadas à fala masculina incluem: 

  • o uso do “da” (だ) em vez de “desu” (です);
  • pronomes de primeira pessoa como “boku” (僕) e “ore” (俺) em vez de “watashi” (私);
  • uso de partículas finais como “yo” (よ), “ze” (ぜ) e “zo” (ぞ).

Além disso, a maneira masculina de falar costuma usar termos mais “neutros” que podem ser associados à fala masculina ou feminina. Mas, a neutralidade se mostrou mais forte com o surgimento das linguagens onee kotoba e onabe.

Onee kotoba: linguagem usada por homens gays e mulheres trans

Onee kotoba (オネエ言葉) é literalmente traduzido como “discurso da irmã mais velha”, mas seu real significado nada tem a ver com sua semântica, pois é um termo usado para denotar um modo afeminado de falar por parte dos homens, um estilo que combina a formalidade da maneira feminina com o tom áspero do modo masculino no japonês. Vejamos abaixo um exemplo: 

あたしブラジルの寿司食ったら 嘔吐だ わ。

Atashi Burajiru no sushi kuttara outo da wa.

Se eu comesse sushi brasileiro, vomitaria.

Como podemos perceber, o pronome “atashi” e o “wa” no final da frase são típicos do modo de falar feminino, enquanto o verbo “kuu” (食う), sinônimo de “taberu” (食べる), que significa comer, é usado quase que exclusivamente por homens.

Segundo Hideko Abe em seu livro “Queer Japanese: Gender and Sexual Identities Through Linguistic Practices”, o onee kotoba começou a ser utilizado durante a Era Showa por homens que trabalhavam como profissionais do sexo chamados “danshou” (男娼). Eles usavam roupas femininas e se referiam a si mesmos como mulheres. 

Por essa razão, o onee kotoba é bastante usado por pessoas e artistas “okama” (おかま), ou seja, homens efeminados e homossexuais. Muito embora, nos dias de hoje, o termo também contemple homens gays (independente de serem efeminados ou não) e mulheres trans.

Onabe: linguagem usada por bissexuais, homossexuais e homens trans

A palavra onabe (おなべ), apesar de ser traduzida literalmente como “panela”, foi originalmente usada para se referir a lésbicas e travestis, até que recentemente passou a incluir também homens trans.

Em seu vocabulário, pessoas consideradas onabe fazem uso de determinadas palavras que abrangem os marcadores de gênero masculino e feminino. 

Um exemplo é “jibun” (自分) usado por eles como pronome de primeira pessoa de gênero neutro, razão pela qual é mais comum ver bissexuais e homosexuais falando assim, enquanto homens trans, por serem mulheres que transacionaram para homens, preferem “boku” (僕) que é tipicamente masculino.

Assim, mesmo o idioma nipônico sendo neutro, os tipos de linguagem em japonês que apresentamos ao longo deste artigo são usados por variados tipos de pessoas no Japão.

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