Gozyuger é só o começo: Shirakura quer reinventar o Super Sentai
Shinichiro Shirakura, produtor veterano da Toei, não mede palavras: ou o Super Sentai passa por reformas estruturais profundas, ou corre o risco de desaparecer. Com Gozyuger, lançado como obra comemorativa pelos 50 anos da franquia, ele acredita que é hora de transformar não só a estética ou a narrativa, mas a própria lógica do que sustenta esses heróis coloridos há meio século.
E, segundo ele, isso passa por repensar tudo — dos robôs gigantes às motivações de cada guerreiro.
A fórmula está desgastada — e Shirakura sabe disso
Conforme apontou o site Cinema Today, para Shirakura, não dá mais para contar com o “jeito clássico” de fazer Super Sentai. A combinação de cinco heróis, inimigos semanais, robôs colossais e finais morais já não causa o mesmo impacto. O público mudou. As linguagens visuais mudaram. O ritmo da cultura pop mudou. Ele disse:
“O que diferencia o Super Sentai não pode ser só nostalgia. Tem que haver um propósito real em cada decisão criativa.”
Por isso, Gozyuger não pode ser apenas um desfile de personagens antigos. Segundo ele, essa é uma oportunidade de testar uma nova abordagem, onde cada Red do passado é reavaliado, redesenhado e reapresentado ao público atual como se fosse um personagem novo. Não basta citar o que já foi dito: é preciso torná-los relevantes de novo.
Os robôs gigantes ainda têm papel central — mas precisam evoluir
Shirakura reconhece que, em meio a tantas semelhanças com outras franquias de heróis em tamanho real, o que torna o Super Sentai único é o elemento do robô gigante. É nesse ponto que ele vê uma oportunidade de inovação — não apenas no design ou no CGI, mas na própria função dos mechas dentro da história.
Para ele, a nova geração de produtores precisa ir além do “robô aparece no final e vence o monstro”. O robô precisa ter sentido dramático, impacto visual e um papel narrativo digno da tecnologia atual. Ele afirmou:
“Não dá mais para tratar o robô como um bônus no fim do episódio. Ele tem que ser parte viva do enredo, com peso e emoção.”
A missão: transformar sem perder a alma
Apesar do discurso reformista, Shirakura não propõe apagar o passado. Ao contrário, ele é um profundo conhecedor da história da franquia — alguém que virou fã assistindo Battle Fever J por acaso e que trabalhou com nomes lendários da Toei desde sua entrada em Jetman.
Para ele, existe uma “alma” nos Super Sentai que não pode ser abandonada: a ideia de coletividade, de união entre diferentes, de amizade forjada em batalha. É essa essência que precisa ser preservada, mesmo quando o formato e a estrutura forem transformados.
Essa visão explica sua admiração por séries como Zenkaiger e Donbrothers, que subverteram expectativas sem abrir mão do sentimento heroico. Shirakura quer que Gozyuger siga esse caminho: o da ousadia com propósito.
A lógica da produção também precisa mudar
Além do conteúdo das séries, Shirakura levanta críticas sobre a própria estrutura de produção das obras. Para ele, a ideia de que roteiristas e diretores são artistas solitários lutando contra os sistemas é ultrapassada. A criação de um Super Sentai, segundo o produtor, é um trabalho coletivo — e é justamente esse modelo que deve ser otimizado para que novas ideias possam florescer.
Foi com essa mentalidade que ele se destacou em séries como Jetman, Zyuranger e Dairanger, quando testou parcerias entre roteiristas e diretores para criar episódios centrados em personagens específicos. Para Shirakura, criar um episódio não é apenas entregar mais um capítulo: é uma chance de experimentar, errar e aprender dentro de um sistema que esteja aberto a isso. Ele questionou:
“Se não podemos testar dentro do próprio programa, onde mais?”
Gozyuger não é fim de ciclo — é ponto de virada
Ao falar de Gozyuger, Shirakura reforça que não se trata de uma celebração nostálgica. É uma proposta de redefinição. É o momento ideal para provocar desconforto, questionar escolhas antigas e testar novas possibilidades — mesmo que isso signifique reescrever partes do cânone.
A proposta, portanto, não é lembrar os fãs antigos de como tudo era bom. É mostrar que o Super Sentai pode ser muito mais do que já foi. Pode ser atual, surpreendente, emocionante e, acima de tudo, necessário. Portanto, ele afirmou com convicção:
“Se o Super Sentai continuar se apoiando apenas no que deu certo no passado, vai deixar de existir. Precisamos correr riscos. Precisamos errar. Precisamos tentar.”
E a franquia vem tentando diversas fórmulas há tempos. Sabia, inclusive, que ela quase acabou nos anos 90? Confira o caso ao clicar aqui!