Kazuo Oishi, designer de tokusatsu, releva segredos de trajes e veículos
Para muitos fãs de tokusatsu, o que fica na memória não são apenas as batalhas épicas, mas os visuais marcantes: capacetes icônicos, veículos com múltiplas formas e robôs com design impecável. Por trás de boa parte dessas criações, está Kazuo Oishi, um nome que raramente aparece nos créditos finais, mas que ajudou a definir visualmente o gênero nas décadas de 80 e 90.
Nascido em 1955, Oishi cresceu em um ambiente que o aproximou naturalmente da indústria do entretenimento japonês. Morando nos arredores de Setagaya, bairro repleto de estúdios e produtoras de efeitos especiais, o futuro designer passava os fins de tarde observando os bastidores de produções que, anos depois, fariam parte da sua rotina profissional.
Neste post, apresentamos os principais momentos da sua vida e carreira a partir da entrevista que Rafael Ribeiro fez com Kazuo Oishi, e que foi disponibilizada no canal TokuDoc.
Do papel ao herói: a trajetória de um designer industrial
Kazuo Oishi começou sua carreira como designer industrial, atuando com objetos como relógios e telefones. Foi só em 1981, ao ingressar no estúdio Popy Kikaku (atual Plex), que seu trabalho passou a ganhar forma nas telas de TV. Seu primeiro projeto no universo dos heróis foi o sidecar Saibarian, de Gavan, e a partir dali, sua carreira deslanchou.
Ele teve papel ativo na criação visual de personagens e veículos de séries como Goggle Five, Changeman, Flashman e boa parte da franquia Metal Hero. São dele, por exemplo, os conceitos por trás da nave de Spielvan, e da moto de Jaspion.
O capacete perfeito e os desafios do design
Um dos pontos altos da entrevista foi a explicação de Oishi sobre o processo de criação do capacete do Red Falcon, líder do grupo Liveman.
Segundo ele, o trabalho era feito em conjunto com escultores e modelistas, e nem sempre as proporções funcionavam de primeira. Um exemplo engraçado citado foi quando ele projetou as “orelhas” do capacete, que ficaram exageradamente grandes ao serem esculpidas, exigindo ajustes até encontrar o equilíbrio entre o design e a funcionalidade.
Aparentemente simples, a criação de um capacete envolve múltiplos fatores: visibilidade para o ator, conforto, ventilação e, claro, impacto visual. “O capacete precisa parecer heróico, mesmo de longe”, disse Oishi. Além disso, havia uma sinergia essencial entre os designers de capacete e os responsáveis pelos trajes — que muitas vezes eram feitos por equipes diferentes.
A mente por trás de veículos e robôs
Se os trajes são o cartão de visitas dos heróis, os veículos e robôs são as estrelas da ação. Oishi explicou que, quando precisava criar uma nave ou moto, partia de carros reais como base. Ele selecionava modelos esportivos, muitas vezes adaptando estruturas existentes com partes modulares e armas fictícias.
Um dos seus projetos favoritos é a nave Gran Nasca (Defender na versão brasileira), usada por Spielvan. De acordo com ele, esse veículo tinha múltiplos modos de combate e ainda havia funções desenhadas que nunca foram utilizadas na série.
Oishi também comentou sobre a dificuldade de desenvolver veículos que seriam filmados em chroma key, como a moto azul usada por Gavan no aniversário de 30 anos do personagem. Para evitar que ela “sumisse” no fundo, o tom da pintura foi alterado.
Para onde vão os veículos depois das gravações?
Essa é uma dúvida comum entre os fãs, e Oishi revelou que, após o fim das produções, muitos veículos simplesmente desapareciam. Alguns eram reaproveitados em outras séries, outros desmontados. E, claro, há os que foram armazenados — mas o paradeiro da maioria se perdeu com o tempo.
O designer também falou sobre os nomes dos personagens, como Brian, do Winspector, que destoava dos nomes japoneses tradicionais. A escolha dos nomes ficava a cargo da produção e da Bandai, mas era comum que os designers participassem das reuniões de brainstorm.
Kazuo Oishi e o futuro do design no tokusatsu
Hoje, mesmo com a aposentadoria de parte da velha guarda do tokusatsu, Oishi continua sendo uma referência no design de personagens e brinquedos. Seu trabalho ajudou a estabelecer um padrão visual que continua sendo seguido e homenageado por novos designers.
Em tempos de CGI e produções cada vez mais digitalizadas, a precisão artesanal e a criatividade de nomes como Kazuo Oishi seguem sendo inspiração para quem deseja manter viva a essência do tokusatsu clássico.
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