
A temporada que quebrou as regras: o impacto de Power Rangers S.P.D.
Power Rangers S.P.D. é lembrada como uma das temporadas mais ousadas e maduras da franquia Power Rangers. Lançada em 2005, com exibição no Jetix e depois no Toon Disney, a série se passa no ano de 2025 — um futuro próximo onde humanos e alienígenas convivem na Terra.
A convivência, como seria de esperar, não é perfeita. Para manter a ordem, surge a Space Patrol Delta, uma força policial intergaláctica equipada com tecnologia avançada e um time de Rangers geneticamente modificados.
Mas o que fez essa temporada se destacar? Do drama interno da equipe até traições inesperadas, a trama de Power Rangers S.P.D. se afasta das fórmulas anteriores e mergulha em conflitos reais, disputas de poder e dilemas morais.
A premissa que mudou o tom da franquia
A série começa com um cenário otimista: a humanidade abriu suas portas para seres de todo o universo. Mas esse ideal é rapidamente abalado com a chegada do Império Troobian, liderado pelo vilão Gruumm. Com a misteriosa ausência do Esquadrão A, cabe ao Esquadrão B — um grupo de jovens com passado conturbado — assumir o papel de defensores da Terra.
Diferente de temporadas anteriores, a série não entrega heróis prontos. Jack (Ranger Vermelho) e Z (Ranger Amarela) são ex-ladrões. Sky (Azul), Bridge (Verde) e Syd (Rosa) vêm de famílias de elite e carregam preconceitos e ego ferido.
O comandante Anubis “Doggie” Cruger, sobrevivente do planeta Sirius, é uma figura de autoridade marcada por perdas pessoais. Cada personagem traz uma bagagem emocional que interfere nas dinâmicas de grupo, o que torna o desenvolvimento narrativo mais denso do que a média da franquia.

Conflitos internos: quando o maior inimigo está dentro da equipe
Um dos grandes trunfos de Power Rangers S.P.D. é como a série trabalha conflitos interpessoais. Sky não aceita ser o Ranger Azul, pois seu pai foi um Ranger Vermelho. Jack, mesmo relutante, assume o posto e logo abusa da liderança. Z e Syd brigam por espaço e respeito. Bridge é subestimado por sua excentricidade. Esses atritos não são resolvidos com discursos genéricos, mas com episódios inteiros dedicados ao amadurecimento dos personagens. A série mostra falhas, reconciliações e consequências.
Além disso, o senso de autoridade também é questionado. O comandante Cruger, por exemplo, esconde segredos do passado e, em alguns momentos, toma decisões duras que afetam toda a equipe. Um exemplo emblemático ocorre quando ele demite os Rangers temporariamente após uma missão malsucedida — algo raro na franquia até então.
Tecnologia, armamentos e Megazords: a temporada mais equipada até então
S.P.D. se destaca também pelo número e complexidade dos recursos usados pelos Rangers. Os Delta Morphers funcionam como armas, comunicadores e dispositivos de julgamento. O R.I.C., cachorro robótico da equipe, evolui para arma e armadura.
Além do Megazord Esquadrão Delta, a temporada introduz o Comando Delta Megazord, Omega Max, Deltamax Megazord e o poderoso S.W.A.T. Megazord. O modo S.W.A.T., aliás, representa um upgrade visual e funcional, fruto de um arco narrativo em que os Rangers são forçados a se rebaixar e reaprender a trabalhar como equipe sob o comando do severo Sargento Silverback.
Outro destaque vai para a introdução da armadura Battlizer exclusiva do Jack, assim como os morfadores individuais do Ranger Sombra (Cruger), Ranger Ômega (Sam), Ranger Kat (Kat Manx) e Ranger Nova (Nova), que aparecem conforme a história se aproxima do final.
Uma equipe que evolui com o tempo

Ao longo dos 38 episódios, o Esquadrão B deixa de ser um time desorganizado para se tornar a espinha dorsal da defesa planetária. Esse crescimento é refletido na própria estrutura da S.P.D.: após a derrota de Gruumm e Omni, Jack deixa a organização, Sky é promovido a Ranger Vermelho, Bridge assume como Azul, e o ciclo de liderança é renovado.
Outro ponto importante é a forma como os vilões desafiam os Rangers além da força bruta. Morgana e Broodwing atuam nos bastidores com manipulação e táticas psicológicas. Até o traidor A-Squad, que antes era idolatrado, vira antagonista. O episódio final, com a traição do Esquadrão A e a batalha épica contra Gruumm e Omni, reforça o conceito de que heroísmo não depende do cargo, mas das escolhas.
Crossover com Dino Trovão: homenagem e continuidade
Power Rangers S.P.D. ainda teve o mérito de criar uma ponte direta com Power Rangers Dino Trovão, ao trazer os Rangers Conner, Ethan, Kira e até Zeltrax para participações especiais. Isso reforça a noção de universo compartilhado e traz fãs de temporadas anteriores de volta à audiência.
O episódio “Wormhole” é um dos mais lembrados pelos fãs por reunir os Rangers do passado com os do futuro para enfrentar uma ameaça temporal liderada por Gruumm. A interação entre os dois times é fluida e funciona como uma celebração da longevidade da franquia.
Adaptação de Dekaranger e recepção internacional
S.P.D. é a versão americana de Tokusou Sentai Dekaranger, o 28º Super Sentai japonês. Mas a adaptação vai além da simples transposição de cenas de ação. A série reinterpreta a proposta policial para o público ocidental, usando temas como racismo (Z e S.O.P.H.I.E.), militarismo (Birdie e Silverback) e identidade (Sam, como criança excluída por ser diferente). A repercussão foi tão boa que a versão japonesa de S.P.D. recebeu dublagem do próprio elenco original de Dekaranger no Toei Channel em 2011.
No Brasil, a série foi exibida pela primeira vez em 2006 no canal Jetix e mais tarde na TV Globinho e na Band, atingindo um público variado e consolidando seu espaço no imaginário dos fãs de tokusatsu.
A presença nos quadrinhos e games
Power Rangers S.P.D. também teve desdobramentos em outras mídias. No campo dos games, ganhou um jogo para Game Boy Advance publicado pela THQ, com fases de combate e minigames envolvendo os Zords e o R.I.C. robótico.
Já nos quadrinhos, destaque para a série publicada pela Jetix Magazine no Reino Unido, com histórias inéditas e um final alternativo em que o A-Squad era apenas manipulado e não corrompido. Em 2018, os Rangers de S.P.D. reapareceram no crossover “Shattered Grid”, da Boom! Studios, comemorando os 25 anos da franquia.
O impacto de Power Rangers S.P.D.
Mesmo quase duas décadas após sua estreia, Power Rangers S.P.D. continua sendo uma das temporadas mais lembradas da franquia. Com uma narrativa que aposta em personagens imperfeitos, estrutura de poder questionável, tecnologia inovadora e temas sociais relevantes, a série pavimentou um novo caminho para a franquia — menos infantilizado e mais voltado para a construção de mundos e personagens críveis.
Power Rangers S.P.D. não foi apenas uma adaptação de Dekaranger. Foi um marco narrativo dentro da própria cronologia americana, ao oferecer não apenas lutas e explosões, mas discussões sobre autoridade, crescimento, empatia e superação. E isso, dentro do universo Power Rangers, é o que faz toda a diferença.
Aliás, algo diferente quase aconteceu: Brandon Jay McLaren, ator do Ranger Vermelho, esteve a ponto de recusar fazer o personagem. Continue conosco e saiba como isso aconteceu neste conteúdo que produzimos sobre o assunto!