pulgasari

Pulgasari: o kaiju norte-coreano que nasceu de um sequestro

Toku Blog YouTube

Entre os diversos filmes de tokusatsu que marcaram a história do cinema, Pulgasari se destaca não apenas pelo seu enredo e efeitos especiais, mas também pelo contexto político e histórico de sua produção.

Longe de ser apenas mais um monstro gigante inspirado em Godzilla, essa produção norte-coreana de 1985 foi dirigida por Shin Sang-ok, um renomado cineasta sul-coreano que, junto com sua esposa, foi sequestrado a mando de Kim Jong Il para revitalizar a indústria cinematográfica da Coreia do Norte. A história de Pulgasari é tão fascinante quanto o próprio filme, tornando-o um verdadeiro fenômeno cult.

A produção do filme foi uma tentativa do governo norte-coreano de consolidar sua presença no cinema mundial e exaltar sua narrativa ideológica. Kim Jong Il, um ávido consumidor de filmes, via no cinema uma poderosa ferramenta de propaganda. Para concretizar essa visão, sequestrou Shin Sang-ok e sua esposa, Choi Eun-hee, com o intuito de elevar a qualidade das produções cinematográficas do país. Pulgasari nasceu desse cenário tenso e surreal, tornando-se um dos filmes mais inusitados da história do cinema.

A origem de Pulgasari e sua produção peculiar

O projeto de Pulgasari surgiu dentro da indústria cinematográfica norte-coreana sob a supervisão direta de Kim Jong Il, que era um grande fã do cinema e queria transformar o país em um polo de produção cinematográfica respeitado. O filme é inspirado no conto folclórico coreano sobre uma criatura lendária que devora metal e tem ligação direta com o destino da humanidade. Essa lenda serviu de base para o roteiro escrito por Kim Seryun e Ri Chun-gu, dois dos roteiristas mais respeitados da Coreia do Norte na época.

A produção contou com a colaboração de um time de especialistas japoneses da Toho, estúdio responsável por Godzilla. Kenpachiro Satsuma, que interpretou Godzilla nos anos 80, vestiu o traje do monstro titular, enquanto Teruyoshi Nakano trabalhou nos efeitos especiais. As gravações ocorreram entre junho e dezembro de 1985, com cenas feitas em Pyongyang e na China. Estima-se que o orçamento do filme tenha ficado entre 2 a 3 milhões de dólares, tornando-se uma das produções mais caras da Coreia do Norte na época.

Apesar de toda a infraestrutura providenciada pelo governo norte-coreano, a equipe de filmagem enfrentou diversas dificuldades. O acesso a equipamentos modernos era limitado, e os profissionais japoneses precisavam improvisar com os recursos disponíveis. A construção dos efeitos especiais exigiu criatividade, com muitas das cenas sendo gravadas em locações externas para evitar a limitação técnica dos estúdios locais.

O enredo de Pulgasari: uma revolta contra a opressão

A trama de Pulgasari se passa no final da dinastia Goryeo e acompanha a história de Ami, filha de um ferreiro chamado Takse. Antes de morrer, Takse cria uma pequena figura de monstro a partir de arroz e metal, que ganha vida ao entrar em contato com o sangue de Ami. Essa criatura cresce ao consumir ferro e se torna a principal arma dos camponeses contra o rei tirano que os oprime.

Conforme Pulgasari cresce, ele ajuda a revolução camponesa a derrotar os exércitos reais, mas sua fome insaciável por ferro se torna um problema. No final, Ami percebe que Pulgasari está inadvertidamente prejudicando o povo, que o vê como um libertador. Em um ato de sacrifício, ela se esconde dentro de um sino gigante, que o monstro engole. Esse ato leva Pulgasari à destruição, libertando os camponeses da opressão da criatura.

Loja-Toku-Blog

A história de Pulgasari tem sido interpretada de diferentes maneiras. Alguns analistas veem o filme como uma metáfora política, representando como líderes revolucionários podem se tornar opressores após assumirem o poder. Outros enxergam Pulgasari como um símbolo da própria Coreia do Norte, que devora seus próprios recursos e oprime o povo sob a justificativa de libertação.

A repercussão de Pulgasari

Apesar de seu contexto político conturbado, Pulgasari teve um certo sucesso comercial no Japão quando foi lançado em VHS em 1995 e nos cinemas em 1998. A recepção crítica no Japão foi positiva, e muitos o compararam de forma favorável ao Godzilla de 1998. A influência da equipe da Toho nos efeitos especiais garantiu ao filme um nível técnico superior a outras produções norte-coreanas, o que contribuiu para seu reconhecimento.

Nos Estados Unidos, o filme chegou em 2001 por meio da distribuidora ADV Films e, desde então, se tornou um clássico cult, especialmente entre fãs de kaiju e cinema bizarro. O filme também gerou interpretações políticas variadas, sendo visto tanto como uma crítica à ditadura de Kim Il Sung quanto como uma exaltação da revolução camponesa.

Shin Sang-ok, após fugir da Coreia do Norte em 1986, fez um remake espiritual de Pulgasari nos Estados Unidos chamado Galgameth (1996), que manteve a ideia de um monstro protetor, mas sem a carga política do original. Seu retorno ao Ocidente permitiu que ele falasse abertamente sobre os desafios que enfrentou durante seu tempo na Coreia do Norte, incluindo a constante vigilância e as restrições criativas impostas pelo governo.

Com o passar dos anos, Pulgasari se tornou um símbolo peculiar da interseção entre arte e política. O filme é frequentemente exibido em festivais de cinema como uma curiosidade histórica, e sua produção continua a ser objeto de análise para entender a relação entre o cinema e a propaganda governamental.

Conclusão

O impacto de Pulgasari vai muito além do gênero tokusatsu. Sua produção turbulenta, os elementos políticos e a história de sequestro envolvendo seu diretor tornam esse filme um dos mais peculiares do cinema mundial.

Mesmo sendo uma criação forjada sob coerção, Pulgasari conquistou um espaço entre os clássicos do gênero kaiju, provando que sua história é digna de ser contada e assistida por gerações. O filme é um testemunho de como o cinema pode ser usado tanto como ferramenta de propaganda quanto como uma forma de resistência cultural.

A narrativa por trás de sua criação continua a gerar debates sobre ética no cinema, liberdade de expressão e o papel do Estado na produção cultural. Mesmo décadas após seu lançamento, Pulgasari permanece relevante, não apenas por sua trama, mas pelo que representa dentro da história do cinema mundial.

Aliás, para ver mais conteúdos sobre tokusatsu coreno, clique aqui e confira todos os que produzimos!

quadrinhos de tokusatsu

Quer receber conteúdos de tokusatsu no seu e-mail?

Então, assine a nossa newsletter!

Email registrado com sucesso
Opa! E-mail inválido, verifique se o e-mail está correto.