
Megumi Odaka: a atriz que uniu emoção e força nos filmes de Godzilla
Megumi Odaka é um nome que atravessa décadas de produções japonesas e permanece vivo na memória dos fãs de tokusatsu — especialmente por sua marcante atuação como Miki Saegusa, nos seis filmes da fase Heisei da franquia Godzilla.
Mas sua carreira não se limita ao contato psíquico com o rei dos monstros. Ela foi cantora, atriz de dramas e de teatro, além de ter vencido o prestigiado concurso Toho Cinderella. Sua vida, marcada por desafios de saúde, pausas e retornos inesperados, é uma das mais singulares da indústria do entretenimento japonês.
A infância tímida e os primeiros passos
Megumi Odaka nasceu em 9 de maio de 1972, em Yokohama, província de Kanagawa. Passou a infância entre Tochigi, Tóquio e Zushi, mudando-se diversas vezes por conta da família. Desde cedo, enfrentou sérios problemas de saúde, incluindo fraqueza estomacal e pressão baixa. Na infância, chegou a fazer exercícios médicos diários, como ficar de ponta-cabeça para combater a gastroptose.
Seu desejo de mudar de vida a levou a se inscrever, com incentivo de seus tios — os atores Yuji Odaka e Mayumi Shimizu — na segunda edição do Toho Cinderella Audition, concurso de talentos que revelou nomes como Yasuko Sawaguchi.
Em 1987, aos 15 anos, venceu o prêmio principal e logo em seguida estreou no cinema no papel de Akeno, uma garota cega, no longa “Taketori Monogatari” (“Princess from the Moon”). A atuação rendeu a ela o Prêmio de Atriz Revelação da Academia Japonesa.
Estreia na TV e transformação de imagem
A estreia de Megumi na televisão veio em 1988 com a série “Hana no Asuka-gumi!”, adaptação de um mangá sobre gangues escolares. Para interpretar a protagonista Asuka Kuraku, uma jovem delinquente, Megumi cortou os cabelos longos em cena, criando uma imagem mais agressiva e distante do estilo idol que sua gravadora inicialmente havia planejado.
No mesmo ano, lançou seu primeiro single como cantora, “Sōshun no Eki”, adotando uma imagem romântica e refinada. Sua carreira musical durou até 1991, com seis singles e dois álbuns lançados, entre eles Milky Cotton (1988) e Powder Snow (1989). Ela conciliava os trabalhos como atriz e cantora com os estudos, o que agravou ainda mais sua condição física já fragilizada.
A era Heisei de Godzilla e o papel de Miki Saegusa
Em 1989, Megumi Odaka foi escalada como Miki Saegusa em “Godzilla vs. Biollante”, papel que marcaria para sempre sua trajetória. Miki é uma paranormal capaz de se comunicar telepaticamente com o monstro. O desempenho de Megumi impressionou tanto os produtores da Toho que ela foi mantida no papel até “Godzilla vs. Destoroyah“, em 1995 — totalizando seis filmes consecutivos no mesmo papel.
Ela se tornou a única atriz da franquia a interpretar a mesma personagem em tantos filmes seguidos. Isso a colocou ao lado de nomes históricos como Takashi Shimura e Momoko Kōchi em termos de recorrência na saga.
Curiosamente, no início, Megumi sequer tinha assistido a um filme da franquia. Quando viu o traje do monstro pela primeira vez, ficou com medo. Mas, com o tempo, desenvolveu empatia por Godzilla, descrevendo seu andar solitário como “a imagem do homem ideal” para ela na época. Ela também criou amizade com Kenpachiro Satsuma, o dublê de Godzilla, o que facilitou sua atuação nas cenas mais tensas.

Atuação além da ficção científica
Paralelamente aos filmes de monstros, Megumi continuava participando de produções dramáticas, como “Seishun Kazoku” (1989), “Anata Dake Mienai” (1992) e episódios de “Furuhata Ninzaburō” (1996). Também fez várias peças teatrais, como “Anne no Aijou” (1991), “Kiki’s Delivery Service” (1995) e “Fiddler on the Roof” (1994, 1996, 1998).
Apesar do sucesso e reconhecimento, sua saúde continuava sendo um fator limitante. Em 2000, foi escalada para o musical “Hi no Tori” (“Fênix”), mas teve que se afastar por conta de uma piora em sua condição. No mesmo ano, se desligou da Toho e decidiu se afastar da atuação, encerrando oficialmente sua carreira como atriz.
Um silêncio de 10 anos e os trabalhos após a aposentadoria
Após seu afastamento, Megumi Odaka ficou praticamente incomunicável com o público por uma década. Foi só em 2010 que uma gravação de sua voz foi transmitida durante o evento “Giant Monster Summit 12”, o que provocou comoção entre os fãs.
Aos poucos, ela começou a retomar o contato com o universo do tokusatsu. Em 2012, concedeu entrevista à publicação “Heisei Godzilla Perfection”. Em 2015, participou de conversas com o produtor Shogo Tomiyama, revelando que após sair da Toho passou por diversos empregos: trabalhou em escritório, restaurante italiano, loja de cosméticos e até com informática.
No mesmo ano, posou para fotos e deu entrevistas para o livro “Godzilla vs Biollante Completion”, mostrando uma Megumi madura, mas ainda muito conectada com sua trajetória como Miki Saegusa.
Um retorno inesperado ao cinema
Em 2019, Megumi apareceu publicamente no “Megumi Odaka Film Festival” realizado em Kyoto, reacendendo o interesse do público. Em 2020, foi entrevistada pela NHK no especial “Godzilla to Heroine”. Em 2022, participou da narração do curta animado em CG “Godzilla vs Gigan Rex”, lançado no evento Godzilla Fest.
Mas o verdadeiro retorno veio em 2023. Após 28 anos longe das telas de cinema, Megumi estrelou o longa HOSHI 35, lançado em comemoração aos seus 35 anos de carreira. O projeto foi um presente para os fãs que acompanharam sua trajetória desde os tempos de Godzilla. O filme também homenageia a geração Heisei do tokusatsu, reunindo outros nomes icônicos do gênero.
A força silenciosa de Megumi Odaka
Megumi Odaka pode ter se afastado da grande mídia por longos períodos, mas sua influência permanece forte no coração dos fãs de tokusatsu e da franquia Godzilla. Ela não apenas deu vida a uma personagem recorrente e fundamental para o desenvolvimento emocional da era Heisei, como também representou a dualidade entre fragilidade e força que muitos identificam nas heroínas japonesas.
Mesmo enfrentando problemas de saúde e as pressões da indústria, Megumi nunca se distanciou completamente do que fez dela um ícone. Hoje, sua imagem é reverenciada por fãs de várias gerações, e sua recente reaproximação do universo cinematográfico indica que seu legado segue mais vivo do que nunca.
A história de Megumi Odaka mostra que nem sempre é preciso estar sob os holofotes para ser inesquecível. Aliás, que tal agora conhecer mais uma atriz que marcou as produções de Kaiju Eiga? Confira aqui a história de vida e carreira de Kyoko Enami.